Com dois dias e quatorze bandas o feriado santo foi curtido ao som de muito punk, anarquia, feminismo e muito pogo.
E então Ele ressuscitou e disse “HOJE É DIA DE PUNK!”, e que sorte a nossa poder comemorar o feriadão ao som de muito punk nesta edição de 15 anos do Punk na Pasköa, o baile não foi de debutante, mas muita dança e muita festa aconteceu nos dias 29 e 30 de março, lá no Hangar 110.
O evento organizado pela RedStar, contou com um total de quatorze bandas divididas em dois dias de evento, com bandas somente de mulheres, bandas mais novas na cena, bandas de outros estados e claro as bandas clássicas que amamos e pavimentaram o caminho da cena punk brasileira. O tempo estava favorável, a chuva e o frio da semana deram espaço para dois dias de encontro entre punks de várias idades, desde famílias levando crianças para curtir um rolê, até os velhos de guerra já conhecidos na cena.
DIA 1:
Já diria o ditado, a sexta é santa, mas nós não, e no dia 29, os punks aproveitaram para curtir o feriado religioso do jeito que gostamos, no pogo. O baile desse dia contou com sete shows, iniciando às 18 horas, nesse dia tivemos as bandas Dischava, Ratas Rabiosas, Marzela, Desacato Civil, Lixomania, Dominatrix e Cólera.
O Dischava abriu os serviços não só da noite como do evento, com seu som rápido e pesado, com letras críticas eles animaram o público que chegou cedo para prestigiar todas as bandas. Seguindo tivemos o trio feminino Ratas Rabiosas, e ainda existem dúvidas que o punk não é lugar de mulher? Pois o trio mostrou toda a potência num show cheio de energia com direito a cover de Valesca Popozuda, e ouvimos a versão punk daquela música que diz “Valeu muito obrigada, mas agora virei puta!”, aparentemente o punk e o funk não se aproximam somente na fonética do nome.
E logo em seguida tivemos o Ska Punk, com levada Reggae dos meninos do Marzela, a banda com seus instrumentos de sopro fez os punks dançarem ao som de suas músicas autorais, covers e também apresentaram um som novo, afinal o punk na paskoa edição de 15 anos merece isso e muito mais. Finalizando com um som de Bob Marley tivemos uma verdadeira festa punk reggae.
Num contraponto maravilhoso seguimos com a banda Desacato Civil que trouxe seu sou hardcore punk, e se é energia que a gente quer, essa banda tinha de sobra, com a bandeira da Ação Antifascita a banda que tem um álbum de título “paz entre nós, guerra entre classe” agitou o MoshPit com seu som político antifa. E um ponto interessante do Punk na Paskoa é perceber essa diversidade na curadoria das bandas, dentro do punk existe uma miscelânea de sons que habitam o gênero.
Vimos também um dos veteranos do evento, a banda Lixomania formada em 1979, conta com um som que tem influências do punk inglês, é conhecida na cena punk de são paulo e é claro que os fãs que cantaram as músicas juntos e pogaram bastante ao som da banda. De fato vimo que “o punk não morreu!”.
Seguindo as apresentações tivemos outra banda completamente feminina, as meninas do Dominatrix subiram ao palco e a vocalista lembrou “Ainda somos uma banda hardcore, punk e feminista!”, a banda que se formou em 1995, é considerada uma das precursoras do movimento Riot Grrrl no Brasil, chamaram as mulheres da plateia para o front, para curtirem seu som, que conta com composições em portugues e inglês, falando sobre violência, a sociedade e claro feminismo.
Fechando a noite do primeiro dia, tivemos a banda veterana Cólera, tocando as músicas do lado B, e mesmo com dengue o vocalista Wendell subiu ao palco para encerrar com chave de ouro esse dia. Repleto de participações especiais, o show foi em verdadeiro encontro de amigos, contamos com o apoio nos vocais de Barata da banda DZK, Leandro da banda Ódio Social, Jeff da banda Agrotóxico, e Ariel dos Invasores de Cérebros.
A banda paulista de Punk formada em 1979, é referência dentro da cena punk brasileira. Nesta noite especial, pudemos ouvir também os dois membros da formação original nos vocais, Val e Pierre cantaram clássicos da banda. O momento todo o público não decepcionou no pogo, foi um show animado onde cantamos nossas músicas favoritas. Que sorte a nossa ainda poder curtir o Cólera ao vivo!
DIA 2:
Tem alguém cansado aí? Porque no sábado de aleluia, o dia ainda era de muito punk e tocaram as bandas Agravo, Dischavizer, Drakula, Os Insociáveis, Ódio social, Cigarras e Flicts.
Iniciando o segundo dia, o trio feminista Agravo levou seu som pesado e feminista para o palco do Hangar, a banda que também é composta somente por mulheres passou sua mensagem para o publico que chegou cedo para ver todas as bandas. Em seguida tivemos a banda Dischavizer, e o lema desse show pode ser resumido como toca mais rápido e pesado, porque o som desse grupo é assim, rápido, pesado e intenso, o segundo dia já começou muito bem representado com essas duas bandas.
Logo após foi a vez da banda Drakula, de Campinas, que apresentou um punk mais performático com temáticas de terror, o vocalista interagiu com o público e animou o rolê. E por falar em vocalistas marcantes, a banda os Insociáveis subiu ao palco com muito punk, o frontman Ariel nunca decepciona com sua energia 100% punk rock, e mandou um recado para os jovens presentes, “se revoltem!”.
O que dizer da próxima banda? O trio da Ódio Social meteram marcha e tocaram uma sequência de seis músicas sem pausa, uma atrás da outra. Muita música foi ouvida nesse show, onde também tocaram os lançamentos e contaram com um convidado especial nos vocais, o vocalista Wendell do Cólera também marcou presença no segundo dia do evento.
E tivemos o privilégio de prestigiar mais um grupo punk formado por mulheres, a banda curitibana Cigarras representaram com seus looks de estampa de oncinha e um punk dançante. A banda tem um som que lembra muito uma mistura gostosa de The Runaways com Bikini kill, uma combinação bombástica de muita atitude com vocais rasgados e músicas divertidas, cantaram sons do seu último lançamento fumódromo e cantaram “Eu gosto de você, mas também gosto do bar” dedicada a todas aquelas que gostam de um romance, mas também gostam de uma cervejinha no bar.
Fechando a noite e o Punk na Paskoa, o trio Flicts subiu ao palco, anarquista com suas músicas que lembram verdadeiros hinos, hastearam no show uma bandeira da comunidade LGBTQIA+. O pogo estava animado e não teve um momento em que o público ficou parado, a energia da banda ao vivo é contagiante, e você se agita seja na roda ou dançando do jeito que preferir, os mais atentos viram inclusive orelhinhas de coelho pulando e pogando ao som da banda antifa, os fãs levaram a temática páscoa a sério.
Formada em 1996, em São Paulo, a banda punk entoa hinos de anarquia, na música “a todo anarquista” vimos muitos punhos cerrados erguidos. O grupo apresentou também dois sons novos nessa noite, mostrando que ainda se mantém produzindo coisas novas. Porém, o momento que o palco foi incendiado e invadido por uma sequência de StageDive frenética foi quando tocaram “Briga de Bar”. Com refrões marcantes, os fãs entoaram os sons do início ao fim e animaram muito no último show da última noite desse baile no Hangar.
O evento foi bem pontual, não enfrentamos grandes problemas técnicos e a festa seguiu tranquila e animada. A equipe da RedStar merece elogios pela qualidade na curadoria das bandas, o bom som das duas noites e claro a pontualidade nos horários das apresentações (agradecemos muito quando conseguimos pegar o metrô depois do rolê sem estresses).
O punk se mantém e permanece vivo com os amigos que se conhecem da cena faz muitos anos, mas nesses dois dias vimos também grupos de jovens que estavam curtindo seus sons favoritos e agitando muito, a banda Flicts chamou a atenção para esse ponto ao pedir para os jovens continuarem frequentando os shows, mas também que criem suas bandas, façam zines e continuem mantendo a cena viva. O movimento punk será herdado por esses jovens, a cena se renova, e os discursos devem se atualizar e agregar todos sintam que os hinos punks fazem sentido para si, seguimos ansiosos para os versos anárquicos da nova geração punk que vem por aí.
Peço perdão pelo textão, afinal foram dois dias com 14 bandas, e agradeço a quem chegou até aqui e reviveu esse momento comigo. Nos vemos no pogo!
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